No filme Uma Mulher Fantástica, Daniela interpreta a transexual Marina, que precisa encarar a conservadora sociedade chilena
A atriz transexual chilena Daniela Vega, estrela de Uma Mulher Fantástica, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro no último domingo, não pode receber o prêmio de cidadã ilustre da sua cidade natal. O prefeito de Ñuñoa, um distrito de Santiago, disse que não poderia entregar o título porque nos documentos da atriz constam seu nome de nascimento, masculino.
“A quem estaremos entregando o prêmio? Se temos a identidade de um homem, não podemos entregá-lo a uma mulher”, disse o prefeito Andrés Zarhi, diante das câmeras de televisão, na última terça-feira, para quando estava marcada a cerimônia para agraciar Daniela. A atriz foi a primeira transexual a figurar entre o time de apresentadores do Oscar.
No mesmo dia previsto para a premiação em Ñuñoa, Daniela foi recebida pela presidente do Chile, Michelle Bachelet. Na saída do encontro, Daniela criticou a legislação do país, que não permite a mudança de nome no documento. “Na minha identidade tem um nome que não é meu, porque o país onde nasci não me dá a possibilidade (de mudar o nome nos documentos). O tempo vai passando e estamos esperando”.
Em 2013, Bachelet enviou ao Congresso chileno um projeto de lei de identidade de gênero, que permite a mudança do nome no documento. Mas ainda falta a aprovação do Senado. Após o encontro com Daniela, Bachelet pediu urgência para a apreciação da medida. A presidente chilena passará o comando do país a seu opositor Sebastián Piñera no próximo domingo.
No filme Uma Mulher Fantástica, Daniela interpreta a transexual Marina, que precisa encarar a conservadora sociedade chilena. Após a morte de seu companheiro, que deixou a família tradicional para ficar com ela, Marina é apontada como suspeita e proibida de ir ao funeral. A atriz de 28 anos assumiu que é trans na adolescência.
Prêmio cancelado
O Conselho Municipal de Ñuñoa tinha preparado a cerimônia de entrega do título para Daniela na segunda-feira, um dia após o Oscar, gerando expectativa entre os moradores locais, segundo a imprensa chilena. Mas no dia seguinte, o prefeito, que tinha lançado a ideia, voltou atrás.
Para compensar, a municipalidade criou outro prêmio para a atriz, chamado “Premio Comunal a las Artes” (prêmio municipal às artes).
Nas redes sociais, a decisão do prefeito gerou polêmicas. “Uma pena. No fim, o prefeito não propôs o nome de Daniela Vega para cidadã ilustre”, escreveu a usuária Patricia Hidalgo.
Embaixadora trans
Nas redes sociais, Bachelet disse que o filme Uma Mulher Fantástica “estimulou o debate sobre avanços sociais que o Chile precisa”. Para o diretor do filme, Sebastián Lelio, Daniela Vega passou a ser “uma embaixadora (deste tema)”.
O produtor executivo da TVN (Televisão Nacional de Chile), Rony Goldschmied, disse à BBC Brasil que o filme contribui para o debate sobre gênero no Chile. “Nossa audiência foi fortíssima no dia da entrega do Oscar. Mesmo aqueles que são contra a questão de gênero torceram e aplaudiram o filme. O debate (sobre identidade de gênero) acabou ganhando força através da arte”, disse.
A atriz, por sua vez, afirmou ainda que as pessoas trans sempre existiram – “desde o primeiro dia da humanidade” – e que o filme questiona o amor e suas barreiras.
Em sua conta no Twitter, Daniela rebateu um elogio da Universidade Católica do Chile, que lembrou que seu primeiro filme foi feito por ex-alunos da instituição de ensino: “Em vez de me darem os parabéns, abram a universidade à diversidade. Quantos alunos trans estudam aí?”.
BBC
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FONTE: PAINEL POLÍTICO
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