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Ricos ‘não deveriam usar o SUS’, diz Drauzio Varella

O médico mais famoso do Brasil não tem papas na língua”

Aos 75 anos, o paulistano Drauzio Varella é dono de opiniões fortes – e polêmicas.

Em entrevista à BBC Brasil no Reino Unido, onde participou de um ciclo de palestras organizado por estudantes brasileiros, ele defendeu que os ricos deixem de usar o Sistema Único de Saúde (SUS).

“Um país com mais de 200 milhões de habitantes ousou dizer que saúde é um bem de todos e um dever de Estado (…) Acho que, num país com a desigualdade do Brasil, temos uma parte da população com condições econômicas bastante favoráveis que não deveria usar o SUS. Deveria deixá-lo para quem não tem outra alternativa: ou se trata pelo SUS ou não se trata. Então, não tem sentido de eu estar ocupando o lugar do outro, tenho que me entender com a iniciativa privada”, diz.

Tampouco economizou palavras duras quanto à intervenção política no Ministério da Saúde.

“Você sabe quantos ministros da Saúde o Brasil teve de 2000 a 2018? 12. Nos últimos cinco anos, foram seis. A média de permanência no cargo foi de dez meses. Outro problema é que no Brasil temos milhares de cargos de confiança, trocamos os diretores de hospitais pelo país inteiro, trocamos os chefes de autarquias…a cada dez meses os processos são desestruturados. Isso ocorre em todas as esferas: federal, estadual e municipal. Como você consegue organizar uma empresa, qualquer uma, se a cada dez meses todos os diretores e gerentes são trocados?”, questiona.

Durante a conversa, Varella também falou sobre sua experiência nos presídios brasileiros, nos quais é voluntário há décadas. Também discorre sobre temas que costumam gerar polêmica, como a descriminalização das drogas, o aborto, a homossexualidade e o papel da fé no processo de cura.

BBC Brasil – Qual é o principal problema de saúde pública do Brasil?

Drauzio Varella – São muitos os principais problemas. Temos um sistema único de saúde no Brasil que as pessoas conhecem mal e que, infelizmente, tem uma má fama. Mas o SUS continua sendo o maior sistema de saúde do mundo. Um país com mais de 200 milhões de habitantes ousou dizer que saúde é um bem de todos e um dever de Estado. Lógico que temos a dificuldade de tornar o SUS realmente acessível à toda a população, mas também tivermos enormes avanços. Temos o maior programa de vacinações do mundo, temos o maior programa de transplante de órgãos gratuito do mundo todo, revolucionamos a epidemia de Aids, e há muitas outras ilhas de excelência. Por outro lado, há alguns gargalos que dificultam o acesso. O principal problema está na atenção básica.

BBC Brasil – O sr. falou que o Brasil ousou criar um sistema de saúde que é universal. Na sua opinião, o SUS deveria deixar de ser universal? Qual seria a solução de curto prazo para o SUS?

Drauzio Varella – O SUS foi um grande avanço. Não podemos perder isso. É uma conquista da sociedade brasileira. Temos que defender o SUS antes de tudo. Mas acho que, num país com a desigualdade do Brasil, temos uma parte da população com condições econômicas bastante favoráveis que não deveria usar o SUS. Deveria deixá-lo para quem não tem outra alternativa: ou se trata pelo SUS ou não se trata. Então, não tem sentido de eu estar ocupando o lugar do outro, tenho que me entender com a iniciativa privada. Já outras pessoas defendem o fim da saúde complementar no Brasil. Acho que isso é um radicalismo incoerente, porque é jogar em cima do SUS pessoas que já são muito privilegiadas. O que temos que fazer é aprimorar o SUS.

A solução está dentro do SUS. Para isso, é preciso, em primeiro lugar, impedir a intervenção política. Você sabe quantos ministros da Saúde o Brasil teve de 2000 a 2018? 12. Nos últimos cinco anos, foram seis. A média de permanência no cargo foi de dez meses. Outro problema é que no Brasil temos milhares de cargos de confiança, trocamos os diretores de hospitais pelo país inteiro, trocamos os chefes de autarquias…a cada dez meses os processos são desestruturados. Isso ocorre em todas as esferas: federal, estadual e municipal. Como você consegue organizar uma empresa, qualquer uma, se a cada dez meses todos os diretores e gerentes são trocados?

O segundo ponto é como vamos gerenciar o SUS. Os recursos são limitados. Mas isso não é discussão do Brasil. São limitados na Inglaterra, nos Estados Unidos, que investem 18% do PIB, ou seja, mais de US$ 2 trilhões para a saúde. Poderíamos fazer mais com os recursos que nós temos. Não seria possível dar uma saúde maravilhosa e nem dar tudo para todos. Mas haveria a possibilidade de fazer mais se tivéssemos organização, já num nível municipal, estadual e até federal mais razoável. Um gerenciamento mais eficiente do que nós temos hoje.

BBC Brasil – Se o Sr. fosse ministro da Saúde, qual seria sua primeira medida?

Dráuzio Varella
Drauzio Varella: ‘A sociedade brasileira, na qual eu me incluo, quer ver bandido na cadeia. Mas encarcerar simplesmente não melhora a segurança nas cidade?’ (Crédito: Cynthia Vanzella/Divulgação Brazil Forum UK)

Drauzio Varella – Seria uma tragédia. Não entendo nada de administração pública. Mas eu acho que não existe uma única medida. Primeiro de tudo, é importante ressaltar a importância política do ministro da Saúde. O ministro da Saúde tem que ter liderança. Quem é o atual ministro da Saúde do Brasil? O ministério da Saúde é de um partido político que tem mais representantes na Lava Jato. O ex-ministro da Saúde (Ricardo Barros) saiu para concorrer à eleição. Seu substituto é o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (Gilberto Occhi), que é do mesmo partido. Qual é a lógica? Qual é o projeto? Qual é a política pública de saúde que uma pessoa dessas pode trazer para o ministério? Não precisa ser um médico. Mas tem que ser uma pessoa que ouça os técnicos, que tenha ideias do que fazer para enfrentar esse enorme desafio. E o enfrentamento desse enorme desafio tem que começar lá em baixo. Tem que começar na Unidade Básica de Saúde. Porque aí que você resolve quase todos os problemas.

Qual é a imagem do SUS? É o pronto-socorro. Um local cheio de macas no corredor, com pessoas sentadas no chão e um sujeito falando: ‘estou aqui com o meu pai há quatro horas, ele está doente e ninguém o atende’. Essa é a imagem que a população faz do SUS. Mas se você for nessa fila, 80% ou mais das pessoas que estão ali não tinham que estar naquele lugar. Temos a cultura do pronto socorro no Brasil. Passou mal? Vai para o pronto socorro. Estou com dor de garganta? Vou para o pronto socorro. Você não devia ir para lá. Isso você resolve na Unidade Básica de Saúde, desde que essa unidade funcione, desde que você tenha recursos mínimos nesse lugar para tratar os casos mais simples e deixa para o pronto socorro aqueles que realmente precisam de uma intervenção de urgência. Começaria por aí.

LEIA E ASSISTA A ENTREVISTA COMPLETA NA PÁGINA DA BBC BRASIL

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FONTE: PAINEL POLÍTICO

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Publicado por » Danny Bueno

Especializado em Jornalismo Político e Investigativo. Está radicado nos Estados de Mato Grosso e Rondônia, construiu a carreira trabalhando para sites, jornais e emissoras de TV de Mato Grosso e Rondônia. É assessor de imprensa, é roteirista, produtor de eventos, compositor, editor de conteúdo, relações públicas, analista político e de marketing social. É filiado à ABRAJI - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. (http://portaldosjornalistas.com.br/jornalista/danny-bueno)

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